Umberto Eco (Alexandria, 5 de janeiro de 1932)
é um escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano de
fama internacional. É titular da cadeira de Semiótica (aposentado) e
diretor da Escola Superior de ciências humanas na Universidade
de Bolonha. Ensinou temporariamente em Yale, na Universidade Columbia,
em Harvard, Collège de France e Universidade de Toronto.
Colaborador em diversos periódicos acadêmicos, dentre eles
colunista da revista semanal italiana L'Espresso, na qual escreve sobre
uma infinidade de temas. Eco é, ainda, notório escritor de romances, entre os
quais O nome da rosa e O pêndulo de Foucault. Junto com o
escritor e roteirista Jean-Claude Carrière, lançou em 2010 "N’Espérez pas
vous Débarrasser des Livres" (“Não Espere se Livrar dos Livros”, publicado
em Portugal com o título "A Obsessão do Fogo" e ainda inédito no
Brasil).
Biografia:
Umberto Eco começou a sua carreira como filósofo sob a
orientação de Luigi Pareyson, na Itália. Seus primeiros trabalhos
dedicaram-se ao estudo da estética medieval, sobretudo aos textos de
S. Tomás de Aquino. A tese principal defendida por Eco, nesses trabalhos,
diz respeito à ideia de que esse grande filósofo e teólogo medieval, que, como
os demais de seu tempo, é acusado de não empreender uma reflexão estética,
trata, de um modo particular, da problemática do belo.
A partir da década de 1960, Eco se lança ao estudo das
relações existentes entre a poética contemporânea e a pluralidade de
significados. Seu principal estudo, nesse sentido, é a coletânea de ensaios
intitulada Obra aberta (1962), que fundamenta o conceito de obra
aberta, segundo o qual uma obra de arte amplia o universo semântico provável,
lançando mão de jogos semióticos, a fim de repercutir nos seus intérpretes uma
gama indeterminável, porém não infinita de interpretações.
Ainda na década de 1960, Eco notabilizou-se pelos seus
estudos acerca da cultura de massa, em especial os ensaios contidos no
livro Apocalíticos e integrados (1964), em que ele defende uma nova
orientação nos estudos dos fenômenos da cultura de massa, criticando a postura
apocalíptica daqueles que acreditam que a cultura de massa é a ruína dos
"altos valores" artísticos — identificada com a Escola de Frankfurt,
mas não necessariamente e totalmente devedora da Teoria Crítica —, e,
também, a postura dos integrados — identificada, na maioria das vezes, com a
postura de Marshall McLuhan —, para quem a cultura de massa é
resultado da integração democrática das massas na sociedade.
A partir da década de 1970, Eco passa a tratar quase que
exclusivamente da semiótica. Eco descobriu o termo "Semiótica" nos
parágrafos finais do Ensaio sobre o Entendimento Humano (1690), de John
Locke, ficando ligado à tradição anglo-saxónica da semiótica, e não à tradição
da semiologia relacionada com o modelo linguístico de Ferdinand
de Saussure. Pode-se dizer, inclusive, que a teoria de Eco acerca da obra
aberta é dependente da noção peirceana de semiose ilimitada. Nesta concepção do
"sentido", um texto será inteligível se o conjunto dos seus
enunciados respeitar o saber associativo. Ao longo da década, e atravessando a
década de 1980, Eco escreve importantes textos nos quais procura definir os
limites da pesquisa semiótica, bem como fornecer uma nova compreensão da
disciplina, segundo pressupostos buscados em filósofos como Immanuel Kant e Charles
Sanders Peirce. São notáveis a coletânea de ensaios As formas do conteúdo (1971)
e o livro de grande fôlego Tratado geral de semiótica (1975).
Nesses
textos, Eco sustenta que o código que nos serve de base para criar e
interpretar as mais diversas mensagens de qualquer subcódigo (a literatura, o
subcódigo do trânsito, as artes plásticas etc.) deve ser comparado a uma
estrutura rizomática pluridimensional que dispõe os diversos sememas (ou unidades
culturais) numa cadeia de liames que os mantêm unidos. Dessa forma, o Modelo
Q (de Quillian) dispõe os sememas — as unidades mínimas de sentido —
segundo uma lógica organizativa que, de certo modo, depende de uma pragmática.
A sua noção de signo como enciclopédia é oriunda dessa concepção.
Como
consequência de seu interesse pela semiótica e em decorrência do seu anterior
interesse pela estética, Eco, a partir de então, orienta seus trabalhos para o
tema da cooperação interpretativa dos textos por parte dos leitores. Lector
in fabula (1979) e Os limites da interpretação (1990) são marcos
dessa produção, que tem como principal característica sustentar a ideia de que
os textos são máquinas preguiçosas que necessitam a todo o momento da
cooperação dos leitores.
Dessa forma, Eco procura compreender quais são os aspectos
mais relevantes que atuam durante a atividade interpretativa dos leitores,
observando os mecanismos que engendram a cooperação interpretativa, ou seja, o
"preenchimento" de sentido que o leitor faz do texto, procurando, ao
mesmo tempo, definir os limites interpretativos a serem respeitados e os
horizontes de expectativas gerados pelo próprio texto, em confronto com o
contexto em que se insere o leitor.Além dessa carreira universitária,
Eco ainda
escreveu cinco romances, aclamados pela crítica e que o colocaram numa posição
de destaque no cenário acadêmico e literário, uma vez que é um dos poucos
autores que conciliam o trabalho teórico-crítico com produções artísticas,
exercendo influência considerável nos dois âmbitos. Ver, abaixo, a relação
completa de suas obras que circularam ou circulam no mercado editorial
brasileiro.
Romances:
O Pêndulo de Foucault
O Nome da Rosa (Il nome della rosa, 1980) (Prêmio
Médicis, livro estrangeiro na França);
adaptação cinematográfica de Jean-Jacques Annaud,
com Sean Connery e Christian Slater nos papéis principais;
A Ilha do Dia Anterior (L'isola del giorno prima, 1994)
Baudolino (Baudolino, 2000)
A Misteriosa Chama da Rainha Loana (La misteriosa
fiamma della regina Loana 2004)
O Cemitério de Praga (Il cimitero di Praga), 2011
Ensaios:
Obras nas áreas de filosofia, semiótica, linguística,
estética traduzidas para a língua portuguesa:
As datas que aparecem seguidas de asterisco se referem à
data da publicação da tradução. As demais seguem de acordo com a publicação
original.
Obra aberta (1962)
Diário mínimo (1963)
Apocalípticos e integrados (1964)
A definição da arte (1968)
A estrutura ausente (1968)
As formas do conteúdo (1971)
Mentiras que parecem verdades (1972) (co-autoria de
Marisa Bonazzi)
O super-homem de massa (1978)
Lector in fábula (1979)
Viagem na irrealidade cotidiana (1983)
O conceito de texto (1984)
Semiótica e filosofia da linguagem (1984)
Sobre o espelho e outros ensaios (1985)
Arte e beleza na estética medieval (1987)
Os limites da interpretação (1990)
O signo de três (1991*) (co-autoria de Thomas A.
Sebeok)
Segundo diário mínimo (1992)
Interpretação e superinterpretação (1992)
Seis passeios pelos bosques da ficção (1994)
Como se faz uma tese (1995*)
Kant e o ornitorrinco (1997)
Cinco escritos morais (1997)
Entre a mentira e a ironia (1998)
Em que creem os que não creem? (1999*) (co-autoria de
Carlo Maria Martini)
A busca da língua perfeita (2001*)
Sobre a literatura (2002)
Quase a mesma coisa (2003)
História da beleza (2004) (direcção)
La production des signes (2005 em francês)
Le signe (2005; em francês)
Storia della Brutezza (2007). Em Portugal, traduzido
como História do feio e , no Brasil, como História da Feiúra.
Dall'albero al labirinto (2007)
Não contem com o fim do livro (2010) (co-autoria de
Jean-Claude Carrière)
0 comentários:
Postar um comentário