04/03/2012

Carrie, A Estranha



Em todo colégio, sem exceção, sempre existe o bobo da sala, aquele que é sempre maltratado, seja por ser baixo demais, por ter um nariz grande demais ou mesmo por ter um físico frágil. Na escola de Carrie não é exceção, e o bobo da sala é a própria Carrie.

 Por ter uma mãe que é fanática religiosa, e por não ser exatamente um exemplo de beleza, Carrie White, com suas horríveis espinhas, foi apelidada na escola, dentre tantas outras denominações, de “Carrie, a estranha”. Após um garoto zombar dela, Carrie acaba derrubando-o da bicicleta apenas com a força da própria mente. Aos poucos a garota vai percebendo que tem um dom: telecinesia, o poder de mover as coisas com a mente. Munida de ódio e seu recém-descoberto poder, Carrie vai se vingar de todas as humilhações que passou e fazer com que todos que pisaram nela paguem muito caro.

King aborda a questão da criança que cresce em meio a um ambiente psicologicamente conturbado muito bem, talvez devido ao fato de que foi professor e acompanhou de perto a vida de alunos que passaram por diversos problemas com seus familiares. Suas experiências pessoais o ajudaram a traçar o perfil de Carrieta White, tornando-a semelhante a muitas outras crianças que sofreram ou que ainda sofrem de bullying, mas que felizmente (ou seria infelizmente?) não possuem poderes tele-cinéticos para se defenderem dos agressores.

Diferente dos outros romances do autor, esse é mais verossímil (as notas jornalísticas colaboraram para dar um tom de “realidade” à história). Em Carrie, apesar de se deparar com uma garota com poderes psíquicos, os únicos monstros que você irá encontrar são os colegas de colégio de Carrie e sua própria mãe, uma fanática religiosa que não medirá esforços para fazer com que a filha ande supostamente na linha, segundo os preceitos que ela acredita agradarem a Deus. O mal, nesse romance, tem rostos e nomes, e, apesar dos pesares, não é Carrie.

Apesar de ser o romance de estréia do autor, o tom narrativo é maduro em grande parte do romance. Além de notas jornalísticas, também temos descrições de audiências no tribunal, trechos de livros, reportagens e até mesmo um obituário. O que começou, inicialmente, como uma forma de expandir a história (reza a lenda que “Carrie” foi escrito em forma de conto, posteriormente “alongado” para que se transformasse no romance, após ter sido resgatado do lixo pela esposa de King, Tabitha) acabou dando o tom de realidade que a obra precisava para ser apreciada pelos leitores. Atualmente esse tipo de “técnica narrativa” é mais comum, porém, quando “Carrie” foi publicado, em 1974, poucos eram os escritores que utilizavam do artifício.

Seu sucesso fez com que o livro fosse transposto para o cinema, num filme que carrega o mesmo nome do romance e que permitiu que Stephen King se estabelecesse como um dos maiores escritores de terror/suspense da atualidade.

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